O vestido

Lágrimas anis gotejam no vestido branco
de fuchico
pintando-o.

E a vermelhidão dos lábios ao beijar-te
escorre em sangue
manchando-o.

A tesoura passa rápida
por todos os cantos
cortando-os;

Amarrando os fuchicos
dessas cobras desalmadas
que não me deixam fiar minhas histórias,
sempre desarmada, desamada.

E eu me pego fiando
as linhas sobradas desse retalho pueril,
do vestido encarnecido
escarnecido
mas azul como meu céu de abril.

Oração do luz

O pingo do i
chove e molha
transborba, reforma
concorda
enforca.

Goteja no j do jogo
embebeda o enjoo
da rotina
da retina
cotidianamente repetindo-se
até o fim.

Pingou em Laís
gotejou em Luis
transformou-se em luz.

Abriu-se a ferida
o modo como me seduz
fluidos amarelos, cicatrizantes
espremendo-se até sair o pus
do comigo. Amém.

Café com leite

Doce mel
néctar da flor
inebriante
estaziante
ama mi, por favor.
Descobre-si
descobre-mi
tira o vel
enxerga nos meus olhos
um velho cordel
palavras jogadas
num pedaço de papel.

Princesa da ébano
dos olhos d'agua
mi afaga
mi abraça
mi desgraça
mi esmaga!

Brilha entre os lençois
mi vens
vamos ver os por dos sós?
Juntas
unidas
coladas
grudadas
amadas.

Avante o andor
da santa que cansou de pecar.
Venho ao teu lar
quero te dar todo o calor
que o meu frio possa derreter
amor
quero te ter
nua
crua
lua.